Biomimética: por que você deveria estar antenado nessa nova onda da construção civil

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Em tempos de inteligência artificial, falar sobre a INTELIGÊNCIA NATURAL parece ser uma “remada” contra a maré, mas nem tudo que parece é, e a inteligência natural é uma das maiores tendências para a construção civil na próxima década.

O termo ainda é muito novo, biomimética e os estudos também. O livro Biomimicry foi lançado no ano de 1997, pela bióloga Janine Benyus, onde ela defende a abordagem da inovação através de estratégias utilizadas pela natureza para adaptação às alterações do meio ambiente para transformar essas estratégias em soluções sustentáveis para o ambiente moderno.

Desde a publicação do livro, a biomimética tem ganhado atenção em diversas áreas, incluindo arquitetura, engenharia e ciência dos materiais.

Janine Benyus classifica a biomimética em três níveis:

1. Imitação de forma e forma;

2. Emulação de processos;

3. Aprendizado com ecossistemas;

E por que isso se aplica a Construção Civil?

A construção civil é o setor campeão em poluição ambiental no Brasil, de acordo com a matéria da câmara legislativa brasileira, o Ministério das Cidades estima que resíduos da construção e demolição representem de 51% à 70% dos sólidos urbanos.

As consequências de construir sem pensar na sustentabilidade do planeta já são sentidas pelas mudanças climáticas e em 2019 a conta da humanidade entrou no vermelho, onde passamos a consumir mais recursos do que o planeta consegue regenerar, de acordo com a rede WWF.

E nesse blog, onde fala-se tanto em gestão, a conta ambiental no planeta, claramente está falida. Nesse contexto, a biomimética entra na construção civil, com uma aliada essencial para reduzir essa conta. Em tempos atuais, não podemos ser hipócritas e considerar que a humanidade voltará a viver em cavernas, o conforto da vida moderna não irá se extinguir, então a melhor forma de resolver essa equação quase impossível é adequarmos as construções para termos conforto térmico, conforto sanitário, conforto luminotécnico e conforto energético utilizando o mínimo de recursos naturais para isso. Além do fato que não ignorar é que o Brasil vive um déficit imobiliário de 8,3% ou 6,2 milhões de habitações, que significa que nem todos os brasileiros possuem casas dignas de moradia, esse número que já foi de 30% e reduziu significativamente nas últimas décadas através dos programas de financiamento popular ainda é grande e precisa ser reduzido.

No vídeo do Youtube da Agada sobre inovação com a Luciana Mendes, CEO da La Decora a biomimética é abordada como uma das inovações que são necessárias para os profissionais de engenharia e arquitetura transformarem o mercado.

Como a biomimética ajuda a resolver essa equação?

A biomimética na prática consiste na observação, estudo e reprodução de como a natureza se adapta há 4,5 bilhões de anos, há mudanças climáticas severas e reproduz esse aprendizado em produtos e materiais utilizando a mesma lógica.

Por exemplo, o Shopping Eastgate Centre no Senegal, foi projetado utilizando a lógica de canais de ventilação de um cupinzeiro, após ser observado que a forma como o cupinzeiro é construído a sua temperatura não possui variação independente da temperatura externa, isso fez com que a instalação de ares condicionados no shopping não fosse necessária.

Outro caso de sucesso do estudo da biomimética é o caso do besouro do deserto da Namíbia, onde o animal possui a capacidade de absorver a umidade do ar e produzir sua própria água, o que faz com que ele consiga sobreviver num dos desertos mais secos do Mundo. Essa descoberta é fonte de estudo para o desenvolvimento de caixas d’água e garrafas.

Quais as vantagens?

A biomimética reduz o consumo de energia não somente na construção mas principalmente no uso e operação dessa edificação. Entre as vantagens listadas estão:

Eficiência energética: A biomimética inspira soluções que buscam otimizar o uso de energia, imitando como os organismos naturais aproveitam recursos, como o sol, o vento e a água, para maximizar a eficiência energética de edifícios.

Sustentabilidade: A natureza opera de forma cíclica e sustentável. Aplicando esses princípios à construção, é possível criar estruturas com menor impacto ambiental, utilizando materiais renováveis e processos que favoreçam a reutilização.

Redução de custos: Ao adotar soluções mais eficientes e adaptadas ao ambiente, a biomimética pode ajudar a reduzir custos operacionais a longo prazo, como os gastos com energia e manutenção.

Materiais inovadores: A biomimética pode inspirar o desenvolvimento de novos materiais que imitam a resistência e a durabilidade de estruturas naturais, como a seda de aranha ou a concha de moluscos.

Resiliência e durabilidade: Ao se inspirar em sistemas naturais adaptados ao longo de milhões de anos, a construção biomimética pode resultar em edifícios mais resistentes a intempéries e desastres naturais, como terremotos ou inundações.

Integração com o ambiente: A biomimética promove a criação de edificações que se integram harmoniosamente ao ecossistema local, respeitando o terreno, o clima e as condições ambientais.

Qualidade do ar e conforto térmico: Soluções como a imitação das propriedades de plantas e organismos que regulam a temperatura e umidade podem melhorar o conforto térmico e a qualidade do ar dentro dos edifícios.

Inovação em design: A biomimética oferece novas formas e conceitos arquitetônicos, inspirados em padrões da natureza, que podem resultar em design mais inovador, estético e funcional.

Redução de resíduos: Ao adotar processos circulares e baseados em modelos naturais, a biomimética pode ajudar a minimizar a geração de resíduos na construção, com maior ênfase na reutilização e reciclagem.

Melhor adaptação às mudanças climáticas: Ao observar como os ecossistemas naturais se adaptam a mudanças climáticas, a biomimética permite que os projetos de construção antecipem e respondam melhor às alterações no clima, criando soluções mais resilientes e preparadas para o futuro.

Quais as desvantagens e desafios em construir utilizando essa ciência?

Entre as desvantagens o custo de pesquisa inicial é bastante longo, o que resulta em altos custos iniciais de projeto. Outra desvantagem do uso da biomimética é a complexidade dos projetos que acabam levando mais tempo para serem construídos e tendo que ter uma mão de obra altamente qualificada. Entre as desvantagens podemos listar:

Falta de conhecimento e expertise: A biomimética é uma área relativamente nova para a construção civil. Isso significa que há uma falta de profissionais especializados, como arquitetos e engenheiros, com conhecimento profundo sobre como aplicar princípios biológicos de forma prática e eficiente.

Custo inicial elevado: O desenvolvimento de soluções biomiméticas pode exigir um investimento inicial mais alto. Materiais inovadores, tecnologias e processos adaptados à natureza podem ser mais caros no começo, o que pode desencorajar sua adoção por algumas empresas, especialmente em projetos de menor escala.

Integração com tecnologias tradicionais: Muitos sistemas de construção tradicionais não foram projetados para incorporar os princípios biomiméticos. A adaptação de técnicas tradicionais, como estruturas de concreto ou aço, a soluções mais orgânicas pode exigir reengenharia de processos e tecnologias, o que aumenta a complexidade e o custo.

Desafios técnicos e experimentação: A aplicação de soluções biomiméticas muitas vezes envolve um nível elevado de experimentação e testes, já que a natureza oferece soluções altamente especializadas e adaptadas ao seu ambiente. Transpor essas soluções para o contexto urbano e construir algo funcional e seguro requer muita pesquisa e testes, o que pode ser demorado e complexo.

Regulamentações e normas: A construção civil é fortemente regulamentada, com normas específicas que visam garantir a segurança e a viabilidade das estruturas. Muitas vezes, as soluções biomiméticas ainda não estão contempladas nessas normas, o que pode resultar em dificuldades para obter as licenças necessárias para construção, além de limitar a adoção de tecnologias novas e não testadas.

Adoção lenta da inovação: Como a construção civil é um setor tradicionalmente conservador, a inovação tende a ser mais lenta. A transição para práticas baseadas na biomimética pode ser desafiadora devido à resistência à mudança e à falta de compreensão sobre os benefícios a longo prazo.

Escalabilidade: Embora as soluções biomiméticas possam ser eficazes em pequena escala ou em projetos específicos, a sua aplicação em larga escala ainda apresenta desafios em termos de produção e implementação. Muitos dos princípios naturais envolvem processos muito complexos, difíceis de reproduzir em um contexto industrial.

Ajuste às condições locais: A natureza oferece soluções adaptadas a ecossistemas específicos, e nem todas essas soluções serão viáveis ou eficazes em todos os contextos urbanos. A adaptação de soluções biomiméticas ao clima, cultura e necessidades locais é um processo que pode ser complicado e exigir ajustes contínuos.

Falta de dados e pesquisa consolidada: A biomimética ainda carece de dados sólidos de desempenho a longo prazo, especialmente quando aplicada à construção civil. Muitos projetos são baseados em teoria ou experimentação, e a ausência de resultados documentados pode gerar insegurança entre os profissionais do setor.

Concorrência com materiais tradicionais: Muitos materiais tradicionais, como concreto e aço, já são bem estabelecidos, amplamente disponíveis e com custos previsíveis. Superar a resistência de indústrias consolidadas a novos materiais e técnicas biomiméticas pode ser um obstáculo significativo para sua adoção generalizada.

Conclusão

O olhar atento para a natureza, como fonte de inspiração e solução, promete ser uma das mais transformadoras inovações da construção civil na próxima década. A biomimética, ao integrar os princípios da inteligência natural nos processos de construção, abre um horizonte vasto de possibilidades para a criação de edificações mais sustentáveis, eficientes e resilientes. A redução de impacto ambiental, o uso otimizado de recursos e a adaptação ao contexto local são apenas algumas das vantagens evidentes dessa abordagem, que não apenas desafia os paradigmas tradicionais, mas propõe um novo modelo de desenvolvimento que pode, de fato, revolucionar a maneira como construímos.

Entretanto, para que a biomimética se consolide de forma robusta e escalável no setor, é necessário superar os desafios ainda presentes, como o alto custo inicial de pesquisa, a escassez de profissionais qualificados e a integração com sistemas tradicionais de construção. A construção civil, historicamente conservadora, ainda enfrenta resistência à mudança, o que torna a transição para essas novas práticas mais lenta. Contudo, com o avanço da pesquisa, o amadurecimento das tecnologias e a criação de uma rede de conhecimento especializada, a biomimética poderá não apenas se adaptar ao setor, mas também se tornar sua principal força motriz.

Portanto, se você é um profissional da área ou está apenas começando a entender o impacto das inovações tecnológicas, a biomimética é uma tendência à qual vale a pena estar atento. Ao resolver as desvantagens atuais e integrar essas soluções ao nosso dia a dia, a construção civil poderá, finalmente, alinhar o conforto e a modernidade com a preservação do nosso planeta para as gerações futuras.

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